Carlos Alberto
Teixeira
Essas mailing lists que atualmente pululam no ciberespaço têm lá seu lado bom. Muitas amizades e aventuras já surgiram de trocas de mensagens via e-mail entre pessoas que comungam de um mesmo gosto ou aptidão, mas o destino às vezes percorre caminhos insondáveis. Foi o caso de uma certa lista de assinatura cujo tema era a gerência e administração de sistemas Internet. Nela só entrava fera em Unix, Windows, Java, Flash, HTML e demais tecnologias de ponta nessa área tão fascinante e competitiva da informática. A lista funcionou bem movimentada durante uns dois anos. Deu tão certo que o pessoal resolveu combinar de passarem férias juntos. Decidiram então fretar um avião para uma animada viagem de férias às Bahamas. Vale ressaltar que a maioria deles não se conhecia pessoalmente, mas sim apenas por e-mail. Mas eram todos articulados, inteligentes, pessoal de ótimo nível e, por incrível que pareça, era gente até bem bonita, os homens bem apessoados e as mulheres bem charmosas, elegantes e cheirosas.
Sendo devotos fervorosos da tecnologia, eles não deixaram por menos: fizeram questão de fretar um desses aviões totalmente controlados por computador. Mas esse pessoal de sistemas, a gente sabe como é. Apesar de gênios na Internet e nos bits e bytes, costumam ser gente tímida, contida e travada no âmbito pessoal, social e das conversas. Ao invés de aproveitar a oportunidade para bater papo, cada qual levou seu laptop de estimação e, lá mesmo durante o vôo, quase não conversaram, concentrados em seus computadores, conectados à Rede, fuxicando sistemas e surfando na Web. Sendo uma aeronave de última geração, o piloto não fez exigências de que se desligasse os computadores, e assim lá se foram os internautas fissurados, voando pelo céu azul.
Infelizmente, poucas horas depois, esse belo azul transformou-se em assustadores tons de cinza. O comandante informou que em breve estariam entrando em área tempestuosa mas que, segundo o sofisticadíssimo radar de bordo, não haveria grandes problemas. Só que os passageiros foram aconselhados a desconectar seus laptops pois havia sério risco de descarga elétrica atmosférica. Relutantes, eles obedeceram, logo passando a se entreolhar ressabiados e meio assustados, enfrentando pela primeira vez no voo o fato de que eram na verdade pessoas desplugadas comuns.
A aeronave entrou numa área crítica da tormenta e teve que enfrentar terrível chuvarada, depois granizo pesado, ventos fortíssimos, junto com turbulências horrendas e, por fim, um forte raio atingiu o avião. O computador de bordo foi atingido em cheio e o solavanco que sobreveio fez com que todos a bordo percebessem de imediato que a situação era calamitosa. Bastou apenas que o comandante confirmasse via alto-falante as suspeitas de que iriam se esborrachar no solo, para que começasse uma gritaria monstra a bordo, todos perdendo o controle e transformando-se em verdadeiras feras desesperadas e acuadas, à beira da morte. Sim, estavam todos conscientes de que iriam morrem em alguns minutos.
No meio daquela balbúrdia e choradeira, uma das internautas mais lindas levantou-se de seu assento de repente. Ninguém a conhecia pessoalmente. Era uma mulher extremamente atraente, cabelos longos e sedosos, um corpo belíssimo, mas com a face úmida de tantas lágrimas e uma fisionomia angustiada. Ela respirou fundo e exclamou: "Não posso mais aguentar! Não dá pra ficar sentada aqui e morrer como um animal, atada por um cinto de segurança a um assento. Se eu vou morrer, quero morrer me sentindo como uma mulher. Será que tem aqui a bordo alguém que seja suficientemente homem para me fazer sentir uma mulher nesse momento final?"
Segundos depois de ter proferido aquele verdadeiro desafio, a linda jovem reteve a respiração e arregalou os olhinhos azuis marejados, quando viu levantar-se lá atrás na aeronave um rapaz que também ninguém conhecia pessoalmente, mas com quem certamente já deviam ter trocado várias mensagens. Estava ele com a roupa meio amarrotada, mas era um camarada bonitão, musculoso, uma figura altamente máscula e decidida, um verdadeiro Adônis que se levantou lentamente e se dirigiu pelo corredor rumo ao assento da lasciva mulher. A cena foi bastante forte, fazendo com que todos até parassem de berrar para ver o desfecho da coisa. Ele sorriu calmo para a jovem que já se desfazia em olhares e trejeitos sensuais. Ao se aproximar, tirou sua camisa num gesto quase erótico. A luz dentro da aeronave já era fraca, mas graças aos fortes relâmpagos que fustigavam o avião que caia, pôde ela ver a delineada e poderosa musculatura daquele homem sedutor e imponente. Quando estava diante da mulher, ele a olhou fundo nos olhos e, com a camisa na mão, disse para ela... "Aqui, passe essa camisa".
Fonte: http://www.releituras.com/cateixeira_desastre.asp
Por Adele
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