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Angústia na poesia

Angústia na poesia

Os poetas expressam a angústia  provocada pela ausência ou afastamento do amor ou pelas inseguranças próprias do ser humano e, tantas vezes, a associam com a natureza revoltada nas tempestades, nos ventos, no frio...vejam nos poemas a seguir...



Momento

Mário de Andrade

O vento corta os seres pelo meio.
Só um desejo de nitidez ampara o mundo...
Faz sol. Fez chuva e a ventania
esparrama os trombones das nuvens no azul.

Ninguém chega a ser um nesta cidade,
as pombas se agarram nos arranha-céus,
faz chuva, faz frio.
E faz angústia...

E este vento violento
que arrebenta  dos grotões da terra humana
exigindo céu, paz
e alguma primavera.




Ar de noturno

Federico Garcia Lorca

Tenho muito medo
das folhas mortas,
medo dos prados
cheios de orvalho.
Eu vou dormir,
se não me despertas,
deixarei a teu lado
meu coração livre.

O que é isso que soa
bem longe?
Amor, o vento nas vidraças,
amor meu!

Pus em ti 
colares com gemas de aurora.
Por que me abandonas
neste caminho?
Se vais muito longe,
meu pássaro chora
e a verde vinha 
não dará seu vinho.

O que é isso
que soa bem longe?
Amor, o vento nas vidraças,
amor meu!

Nunca saberás,
esfinge de neve,
o muito que eu
haveria de te querer
essas madrugadas
quando chove
e no ramo seco
se desfaz o ninho.

O que é isso
que soa bem longe?
Amor, o vento nas vidraças,
amor meu!
Ironia
João Guimarães Rosa

A noite fria,
no jardim fechado
joga convites para os namorados.
Um grilo sibila
seu estribilho
de tenor sem sono.

Esses vaga_lumes,
abelhas sonâmbulas
de velinhas verdes,
vem das corolas das estrelinhas
destilar orvalho
nos botões de jasmim.

Tudo calado
no jardim fechado...
Beija-me, querida, 
nesta noite fria,
toda de alegria...

Não queres beijar-me?...
Queres ir embora?
Perdoa...Eu pensava
que gostasses de mim...
Quanta ironia
nesta noite fria,
no escuro do jardim...

Os vaga-lumes já vão piscando,
vão apagando
as lanterninhas frias...
E faz tanto frio
que o grilo franzino
já desafina 
no seu flautim...

VIVER
Carlos Drummond de Andrade
Mas era apenas isso,
era isso mais nada?
Era só a batida
numa porta fechada?
E ninguém respondendo,
nenhum gesto de abrir:
era, sem fechadura,
uma chave perdida?
Isso, ou menos que isso,
uma noção de porta,
o projeto de abri-la
sem haver outro lado?
O projeto de escuta
à procura de som?
O responder que oferta
o dom de uma recusa?
Como viver o mundo
em termos de esperança?
E que palavra é essa
que a vida não alcança?
Postado por Amora.doce

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