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Turco


Fernando Sabino

Assim que chegou a Paris, foi cortar o cabelo, coisa que não tivera tempo de fazer ao sair do Rio. O barbeiro, como os de toda parte, procurou logo puxar conversa:
— Eu tenho aqui uma dúvida, que o senhor podia me esclarecer.
— Pois não.
— Eu estava pensando... A Turquia tomou parte na última guerra?
— Parte ativa, propriamente, não. Mas de certa maneira esteve envolvida, como os outros países. Por quê?
— Por nada, eu estava pensando. A situação política lá é meio complicada, não?
Seu forte não era a Turquia. Em todo caso respondeu:
— Bem, a Turquia, devido a sua situação geográfica... Posição estratégica, não é isso mesmo? O senhor sabe, o Oriente Médio...
O barbeiro pareceu satisfeito e calou-se, ficou pensando.
Alguns dias depois ele voltou para cortar novamente o cabelo. Ainda não se havia instalado na cadeira, o barbeiro começou:
— Os ingleses devem ter muito interesse na Turquia, não?
Que diabo, esse sujeito vive com a Turquia na cabeça — pensou. Mas não custava ser amável, além do mais, ia praticando o seu francês:
— Devem ter. Mas têm interesse mesmo é no Egito. O canal de Suez.
— E o clima lá?
— Onde? No Egito?
— Na Turquia.
Antes de voltar pela terceira vez, por via das dúvidas, procurou informar-se com um conterrâneo seu, diplomata em Paris e que já servira na Turquia.
— Desta vez eu entupo o homem com Turquia decidiu-se.

Fonte: Livro Para Gostar de Ler, Crônicas, ed. Didática
Fernando Sabino, SP, Ática, 1978
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Mais uma vez Fernando Sabino. Antes de publicar o final, queremos saber como você finaliza esse texto. Escreva no espaço dos comentários.
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E no final criado pela Amora temos  um brasileiro grande conhecedor da Turquia:
Mal acabou de sentar-se na cadeira, o barbeiro simpaticamente reiniciou a conversa...sobre a Turquia, claro...E, eu, bem preparado, despejei sobre ele todas as informações que havia acumulado: população, PIB, variações climáticas, últimas alterações políticas etc etc etc.E ele sempre balançando a cabeça em sinal de aprovação, como se eu estivesse lhe fornecendo o manjar dos deuses. Por fim, parei, fez-se um silêncio e eu não aguentei mais:

-"Caro amigo, agora eu quero lhe perguntar: por que você tem tanto interesse pela Turquia?"

-"Não, nada, apenas quis ser simpático, pois o senhor é de lá, não é? Pelo seu jeitão moreno, seus olhos, seu cabelo, o sr. é turco, não é?"....

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Final da história segundo o autor:
Não esperou muito para que o barbeiro abordasse seu assunto predileto:
— Diga-me uma coisa, e me perdoe a ignorância: a capital da Turquia é Constantinopla ou Sófia?
— Nem Constantinopla nem Sófia. É Ancara.
E despejou no barbeiro tudo que aprendera com seu amigo sobre a Turquia. Nem assim o homem se deu por satisfeito, pois na vez seguinte foi começando por perguntar: 
— O senhor conhece muitos turcos aqui em Paris?
Era demais:
— Não, não conheço nenhum. Mas agora chegou a minha vez de perguntar: por que diabo o senhor tem tanto interesse na Turquia?
— Estou apenas sendo amável — tornou o barbeiro, melindrado: — Mesmo porque conheço outros turcos além do senhor.
— Além de mim? Quem lhe disse que sou turco? Sou brasileiro, essa é boa.
— Brasileiro? — e o barbeiro o olhou, desconsolado:
— Quem diria! Eu seria capaz de jurar que o senhor era turco. . .
Mas não perdeu tempo:
— O Brasil fica é na América do Sul, não é isso mesmo?
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Sobre Fernando Sabino:
Sempre um homem solar, que gostava dos amigos, das viagens, dos prazeres. Muito do que escreveu teve essa marca do compartilhamento. Paulo Mendes Campos chegou a dizer dele que era um “Kafka de eletricidade positiva”, dado a profundezas, mas com capacidade de transformar o absurdo da existência em experiência do dia a dia, em retirar lições de vida de pessoas comuns e episódios corriqueiros. Um colecionador de acasos significativos e inusitados. 
                             Fonte:http://divirta-se.uai.com.br/app/noticia/pensar/2013/10/12/noticia_pensar,147352

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       Por Adele

2 comentários:

  1. Mal acabou de sentar-se na cadeira, o barbeiro simpaticamente reiniciou a conversa...sobre a Turquia, claro...E, eu, bem preparado, despejei sobre ele todas as informações que havia acumulado: população, PIB, variações climáticas, últimas alterações políticas etc etc etc.E ele sempre balançando a cabeça em sinal de aprovação, como se eu estivesse lhe fornecendo o manjar dos deuses. Por fim, parei, fez-se um silêncio e eu não aguentei mais:
    -"Caro amigo, agora eu quero lhe perguntar: por que você tem tanto interesse pela Turquia?"
    -"Não, nada, apenas quis ser simpático, pois o senhor é de lá, não é? Pelo seu jeitão moreno, seus olhos, seu cabelo, o sr. é turco, não é?"....

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    1. E não é que nessa história temos uma boa tática de "fazer leitores", Amora!

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