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"Fragmentos de um discurso vertiginoso"

O que acontece com a Poesia a partir de 1960?




È um tempo vertiginoso:conflitos de gerações, revolução feminista, liberação sexual, luta contra ditadura. Surgem movimentos concretistas, cultura pop. Esta quarta parte do livro de Ítalo Moriconi ( a última) foi por ele denominada "Fragmentos de um discurso vertiginoso" e traz versos que valorizam a circunstância imediata da vida, incorporando temas pouco utilizados pela poesia, polêmicos, iconoclastas, rebeldes..Entretanto, os poemas que escolhemos para postar aqui, são chegados à experiência direta dos poetas e dotados de beleza e harmonia, características universais da Poesia em todas as épocas.


Com licença poética

Adélia Prado

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
-dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

( No mesmo impulso da Poesia para o final do século, Adélia Prado é simples e direta: "Mas o que sinto escrevo". Isto diz tudo...)





Cogito

Torquato Neto


eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível

eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora

eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim

eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranquilamente
todas as horas do fim.

( O poeta olha para si mesmo e se revela. Já não sente necessidade de exaltar a nação ou de buscar sua identidade no povo. A busca é do seu caminho interior, que ele encontra e aceita.)



Sintonia para pressa e presságio

Paulo Leminski

   Escrevia no espaço.
Hoje, grafo no tempo,
   na pele, na palma , na pétala,
luz do momento.
   Soo na dúvida que separa
o silêncio de quem grita
  do escândalo que cala, 
no tempo, distância, praça,
  que a pausa, asa, leva
para ir do percalço ao espasmo.

   Eis a voz, eis o deus, eis a fala,
eis que a luz se acendeu na casa
  e não cabe mais na sala.

(Beleza óbvia neste poema que se inscreve no tempo, momento a momento...o  poeta atento ao silêncio de quem grita e ao escândalo que cala... maravilhoso!) Caros amigos, fizemos uma viagem juntos pelo século XX , apreciando poemas de todos os autores, em diferentes épocas e em diversas tendências. Como se vê, a Poesia brasileira traz muito a todos nós.! A sensibilidade do poeta ajuda-nos a desvendar nossas próprias emoções. Assim, continuemos nesses belíssimos  encontros com a Poesia!

                                                                                           Postado por Amora.doce

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