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Faces de Fernando Pessoa

Fernando Pessoa, um dos maiores poetas portugueses, a si mesmo intitulou-se: "poeta dramático". Ele disse: "como poeta sinto; como poeta dramático transmito automaticamente o que sinto para uma expressão alheia ao que senti, construindo na emoção uma pessoa inexistente..." 


Explica-se, pois, o poema:

Auto-psicografia
                                                                               Fernando Pessoa

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
que chega a fingir que é dor
a dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,
na dor lida sentem bem
não as duas que ele teve,
mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
gira a entreter a razão,
esse comboio de corda
que se chama coração.


Fernando Pessoa  despersonalizava-se na literatura (não se sabe bem se voluntária ou involuntariamente), assinando seus poemas como Fernando Pessoa ou Álvaro de Campos, ou Alberto Caeiro ou Ricardo Reis principalmente.



Como Alberto Caeiro criou " O Guardador de Rebanhos" que assim se inicia:

"Há metafísica bastante em não pensar em nada.
O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo.
Se eu adoecesse pensaria nisso." 

Em Álvaro de Campos, Fernando Pessoa pôs toda a emoção que nunca nem a si mesmo permitiu. Dele, o poema: Tabacaria.

"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."

Como Ricardo Reis, escreveu poemas de índole pagã, principalmente as Odes.  Dos seus personagens, Ricardo Reis é o mais racional e purista em relação à Língua Portuguesa..


Não deixaremos de nos referir aos poemas que mostram um Fernando Pessoa nacionalista, embora ele mesmo tenha dito que esta fosse uma faceta de certa forma secundária de sua personalidade. Narrando as viagens portuguesas pelos mares desconhecidos, criou o extraordinário poema, cuja primeira estrofe é a seguinte:

O Mostrengo

O mostrengo que está no fim do mar 
Na noite de breu ergueu-se a voar; 
À roda da nau voou três vezes, 
Voou três vezes a chiar, 
E disse: "Quem é que ousou entrar 
Nas minhas cavernas que não desvendo, 
Meus tectos negros do fim do mundo?" 
E o homem do leme disse, tremendo: 
"El-Rei D. João Segundo!"




Por Amora.doce                     

7 comentários:

  1. Mais um poema de Fernando Pessoa que me agrada muito:
    PRESSÁGIO

    O AMOR, quando se revela,
    Não se sabe revelar.
    Sabe bem olhar p'ra ela,
    Mas não lhe sabe falar.

    Quem quer dizer o que sente
    Não sabe o que há de dizer.
    Fala: parece que mente...
    Cala: parece esquecer...

    Ah, mas se ela adivinhasse,
    Se pudesse ouvir o olhar,
    E se um olhar lhe bastasse
    P'ra saber que a estão a amar!

    Mas quem sente muito, cala;
    Quem quer dizer quanto sente
    Fica sem alma nem fala,
    Fica só, inteiramente!

    Mas se isto puder contar-lhe
    O que não lhe ouso contar,
    Já não terei que falar-lhe
    Porque lhe estou a falar...

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    1. Obrigada, Adele, por nos enviar o poema "Presságio" de Fernando Pessoa. como eu gostaria que todos os que leem as poesias deste blog, enviassem os seus poemas favoritos. Teríamos oportunidade de conhecer muito mais sobre cada poeta e sua obra.

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  2. "Tudo vale a pena qdo a alma não é pequena" ! Através da poesia Fernando Pessoa, criou outras vidas (+ de 70!!! Uau!! ), um génio da literatura mundial!!!

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    1. Chega a ser um mistério tanta criatividade, não é?

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  3. Como poderia dizer: este é o cara!! Não espera, melhor, ele é os caras! Os caras são ele. Um múltiplo único. Difícil definir... Acho que não existe definição que chegue para tanta genialidade.

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  4. Concordo, Lucas! Vc. disse bem: "os caras". Nem ele mesmo conseguia explicar a origem dos seus heterônimos. Só sei que suas poesias são de muita inspiração e emoção, principalmente os de Álvaro de Campos que eu adoro.

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