Image Map

Se me esqueceres

Adele enviou-nos um de seus poemas favoritos do grande poeta chileno: Pablo Neruda, que tinha um nome complicado: Neftali Ricardo Reis  Basoalto, ficou conhecido pelo pseudônimo Pablo Neruda, nome que adotou legalmente. Sua primeira fase poética foi inspirada por uma angústia altamente romântica. Tornou-se marxista e revolucionário e foi a voz da América Latina em suas revoltas populares. Em 1971, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura. Sua obra autobiográfica é o livro “Confesso que vivi”, publicado após sua morte.


Quero que saibas
uma coisa.

Sabes como é:
se olho
a lua de cristal, o ramo vermelho
do lento outono à minha janela,
se toco
junto do lume
a impalpável cinza
ou o enrugado corpo da lenha,
tudo me leva para ti,
como se tudo o que existe,
aromas, luz, metais,
fosse pequenos barcos que navegam
até às tuas ilhas que me esperam.

Mas agora,
se pouco a pouco me deixas de amar
deixarei de te amar pouco a pouco.

Se de súbito
me esqueceres
não me procures,
porque já te terei esquecido.

Se julgas que é vasto e louco
o vento de bandeiras
que passa pela minha vida
e te resolves
a deixar-me na margem
do coração em que tenho raízes,
pensa
que nesse dia,
a essa hora
levantarei os braços
e as minhas raízes sairão
em busca de outra terra.

Porém
se todos os dias,
a toda a hora,
te sentes destinada a mim
com doçura implacável,
se todos os dias uma flor
uma flor te sobe aos lábios à minha procura,
ai meu amor, ai minha amada,
em mim todo esse fogo se repete,
em mim nada se apaga nem se esquece,
o meu amor alimenta-se do teu amor,
e enquanto viveres estará nos teus braços
sem sair dos meus.


                        Pablo Neruda, in "Poemas de Amor de Pablo Neruda" 


                                                                             Por Amora.Doce

9 comentários:

  1. Demais Neruda! Tenho esse poema em vídeo, é lindo mesmo...um amor solitário que depende da vontade do outro em querer ou não querer estar junto ...

    ResponderExcluir
  2. Toda vez que leio esse poema, me emociono. Eita Neruda!

    ResponderExcluir
  3. Como eu, Neruda é um romântico incorrigível . Amo seus poemas.

    ResponderExcluir
  4. Fiquei com vontade de ler "Confesso que vivi". Se alguém colocar este livro na minibiblioteca, vou correndo buscar...

    ResponderExcluir
  5. Realmente, um poema fantástico... Quero ser assim quando crescer!!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Modéstia sua , Lucas...Vc. já está bem crescidinho e sabe falar do que sente e do que sentimos. Esta é a essência do poeta, não é? Espero ler outros poemas seus. Um abraço.

      Excluir
    2. Bom saber que você pensa assim. Eu agradeço! Mas ainda estou bastante longe de um gênio como Neruda... Acho que nunca sequer me aproximarei! Poetas como este aparecem de quando em quando para traduzir e colocar em palavras o que vai na alma humana!

      Excluir
  6. Lucas: sem comparações. Assim como cada ser humano é único, cada poeta é único. lembra-se da "diversidade das criaturas", lá no poema dos dons de Borges? Pois a diversidade é que torna rico o nosso mundo. E fazer poesia é um dom, vc. tem., agradeça por ele. Claro que os poetas vão aprofundando-se cada vez mais no conhecimento dos outros e de si mesmos, tornam-se mais densos às vezes- alguns até se zangam com o que escreviam no início de suas vidas ( Guimarães Rosa, por ex., renegou seus próprios poemas- mas eu gosto deles...qualquer dia vou postar um)-acho que é bom fazer, saber fazer, expressar-se, oferecer aos outros o que percebe...tanta coisa boa...só coisa boa...um grande abraço e traga mais para nós, ok?

    ResponderExcluir