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Em Rubem Alves, poesia e prosa se misturam

Em Rubem Alves, poesia e prosa se misturam,
ao narrar estórias que lhe contaram:





Quando o silêncio cobre o nome

Havia certa vez um homem
que dizia o nome de Deus.
Quando o coração lhe doía
por uma criança que chorava
ou um pobre que mendigava,
ele andava até a floresta,
acendia o fogo, entoava canções
e dizia as palavras.
E Deus o ouvia...

O tempo passou.
Voltou à mesma floresta.
Mas não carregava fogo nas mãos.
Só lhe restou cantar as canções
e dizer as palavras.
E Deus o atendeu ainda assim...

Um tempo mais longo se foi.
Sem fogo nas mãos,
sem força nas pernas,
não alcançou a floresta.
Mas do seu quarto 
saíram as mesmas canções
e as mesmas palavras.
E Deus lhe disse que sim...

Chegou a velhice.
Nem floresta nem fogo ou canções...
Restaram as palavras.
E o mesmo milagre ocorreu...

Por fim
sem fogo ou floresta,
sem canções ou palavras.
Só mesmo o infinito desejo
e o silêncio:
E Deus tudo entendeu...

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Texto e poesia, ao narrar a morte  de Mahatma Gandhi





Quando menino
tinha medo dos fantasmas
que assombravam a noite e a solidão.
Sua ama lhe contava estórias
e lhe ensinou o poder
do nome de Deus
para exorcizar demônios
e para afugentar 
o pior de todos eles:
o medo.
E aprendeu a repetir o nome sagrado.
Rami Ram:
era assim que ele soava
em sua língua,
Ó Deus, meu Deus.

Naquele dia caminhava
para as orações do meio-dia,
em meio a alegrias luminosas
e prenúncios de violência.
De repente, ali, ao alcance de seu braço,
tudo muito depressa
para que se pudesse fazer algo,
a arma, os clarões, os estampidos,
a dor, a vida que fugia,
e só lhe vieram aos lábios
as palavras de infância,
o nome de Deus,
Rami Ram.

Assim morreu Mohandas Mahatma Gandhi,
um santo que sabia
do poder do nome sagrado.

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Finalmente, encerrando nosso post de hoje, que comemora o início de setembro, mês da primavera, mês de nascimento de Rubem Alves, o texto-poesia com que ele encerrou o livro "Pai Nosso- Meditações", publicado pela primeira vez em 1987:





Esperança

Que haja olhos para acolher o luar,
e que eles adivinhem as formas
que se escondem nas nuvens,
e os ventos brinquem com as pipas.

Mas é preciso que os sacramentos da morte
sejam enterrados
e os seus sacerdotes
aprendam os risos da vida.

O mundo é muito belo.
É preciso que ele continue...



                                                                        Pintura arte Naif- Artista Aracy


  Postado por Amora.doce, em setembro de 2014


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