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Caso de Chá



A casa da velha senhora fica na encosta do morro, tão bem situada que ali se aprecia o bairro inteiro, e o mar é uma de suas riquezas visuais. Mas o terreno em volta da casa vive ao abandono. O jardineiro despediu-se há tempos; hortelão, não se encontra nem por milagre. A velha moradora resigna-se a ver crescer a tiririca na propriedade que antes era um brinco. Até cobra começou a passear entre a folhagem, com indolência; é uma cobrinha de nada, mas sempre assusta.

O verdureiro que faz ponto na rua lá embaixo ofereceu-se para matá-la. A boa senhora reluta, mas não pode viver com uma cobra tomando banho de sol junto ao portão, e a bicha é liquidada a pau. Bom rapaz, o verdureiro, cheio de atenções para com os fregueses. Na ocasião, um problema o preocupa: não tem onde guardar à noite a carrocinha de verduras.

– Ora, o senhor pode guardar aqui em casa. Lugar não falta. – Muito agradecido, mas vai incomodar a madame.

– Incomoda não, meu filho.
A carrocinha passa a ser recolhida nos fundos do terreno. Todas as manhãs o dono vem retirá-la, trazendo legumes frescos para a gentil senhora. Cobra-lhe menos e até não cobra nada. Bons amigos.
– Madame gosta de chá?
– Não posso tomar, me dá dispepsia, me põe nervosa.

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Dê asas à imaginação e termine esta história, no espaço reservado aos comentários.
Na próxima semana você conhecerá o final dado por Carlos Drummond de Andrade.
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Amora.Doce, que nunca deixa de participar de Mirabolando, encaminhou um final feliz para o Caso do Chá:
Pensando bem, a velha senhora decidiu aceitar as folhas para o chá e, logicamente, convidou o verdureiro para tomá-lo às 6 da tarde e saborear umas bolachinhas que ela iria preparar. Foi um belo final de tarde! E no dia seguinte, ela resolveu chamar também uma vizinha para participar do encontro. Foi um papo delicioso! Daí para a frente, o chá se repetia entre risadas e alegrias de novos amigos. Podemos dizer que a vida dela (e também do verdureiro) se modificou para sempre.E tudo nasceu de alguns simples gestos de gentileza...
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E o autor assim finaliza:
– Pois eu sou doido por chá. Mas está tão caro que nem tenho coragem de comprar. Posso fazer um pedido? Quem sabe se a madame, com esse terreno todo sem aproveitar, não me deixa plantar uns pés, pouquinha coisa, só para o meu consumo?

Claro que deixa.Em poucas horas o quintal é capinado, tudo ganha outro aspecto. Mão boa é a desse moço: o que ele planta é viço imediato. A pequenina cultura de chá torna alegre outra vez a terra abandonada. Não faz mal que a plantação se vá estendendo por toda a área. A velha senhora sente prazer em ajudar o bom lavrador. Alegando que precisa fazer exercício, caminhando com cautela pois enxerga mal, ela rega as plantinhas, que lhe agradecem a atenção prosperando rapidamente.

– Madame sabe: minha intenção era colher só uma pequena quantidade. Mas o chá saiu tão bom que os parentes vivem me pedindo um pouco e eu não vou negar a eles. É pena madame não experimentar. Mas não aconselho: se faz mal, não deve mesmo tocar neste chá. O filho da velha senhora chegou da Europa esta noite. Lá ficou anos estudando. Achou a mãe lépida, bem disposta.
– E eu trabalho, sabe, meu querido? Todos os dias rego a plantação de chá que um moço me pediu licença para fazer no quintal. Amanhã de manhã você vai ver a beleza que está.
O verdureiro já havia saído com a carrocinha. A senhora estende o braço, mostra com orgulho a lavoura que, pelo esforço em comum, é também um pouco sua. O filho quase caiu duro:
– A senhora está maluca? Isso nunca foi chá, nem aqui nem na Índia. Isso é maconha, mamãe!

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Ainda sobre Carlos Drummond de Andrade: 
(Itabira  31 de outubro de 1902 — Rio de Janeiro 17 de agosto de 1987). Foi um poeta contista e cronista brasileiro, considerado por muitos o mais influente poeta brasileiro do século XX.
Nasceu em Minas Gerais, numa cidade cuja memória viria a permear parte de sua obra, Itabira. Seus antepassados, tanto do lado materno como paterno, pertencem a famílias de há muito tempo estabelecidas no Brasil . Posteriormente, foi estudar em Belo Horizonte, no Colégio Arnaldo, e em Nova Friburgo  com os jesuítas no Colégio Anchieta. Formado em farmácia com Emílio Moura e outros companheiros, fundou "A Revista", para divulgar o modernismo  no Brasil.
Em 1925, casou-se com Dolores Dutra de Morais, com quem teve dois filhos, Carlos Flávio, que viveu apenas meia hora (e a quem é dedicado o poema "O que viveu meia hora", presente em Poesia completa, Ed. Nova Aguilar, 2002), e Maria Julieta Drummond de Andrade.

No mesmo ano em que publica a primeira obra poética, "Alguma poesia" (1930), o seu poema Sentimental é declamado na conferência "Poesia Moderníssima do Brasil" , feita no curso de férias da Faculdade de Letras de Coimbra, pelo professor da Cadeira de Estudos Brasileiros, Dr. Manoel de Souza Pinto, no contexto da política de difusão da literatura brasileira nas Universidades Portuguesas. Durante a maior parte da vida, Drummond foi funcionário público, embora tenha começado a escrever cedo e prosseguindo até seu falecimento, que se deu em 1987 no Rio de Janeiro, doze dias após a morte de sua filha. Além de poesia, produziu livros infantis, contos e crônicas.

Fonte: wikipédia



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                            Por Adele


3 comentários:

  1. Pensando bem, a velha senhora decidiu aceitar as folhas para o chá e, logicamente, convidou o verdureiro para tomá-lo às 6 da tarde e saborear umas bolachinhas que ela iria preparar. Foi um belo final de tarde! E no dia seguinte, ela resolveu chamar também uma vizinha para participar do encontro. Foi um papo delicioso! Daí para a frente, o chá se repetia entre risadas e alegrias de novos amigos. Podemos dizer que a vida dela (e também do verdureiro) se modificou para sempre.E tudo nasceu de alguns simples gestos de gentileza...

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  2. kkk........Esse é o meu incrível Carlos Drummond de Andrade!

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