Mário Quintana
Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...
Texto extraído do livro "Nova Antologia Poética", Editora Globo - São Paulo, 1998, pág. 118.
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O autor por ele mesmo:
Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal
coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! Eu
sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha
vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula
que não fosse uma confissão. Ah! mas o que querem são detalhes, cruezas,
fofocas... Aí vai! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas: ou se
está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a
Eternidade.
Nasci no rigor do inverno, temperatura: 1 grau; e ainda por cima
prematuramente, o que me deixava meio complexado, pois achava que não estava
pronto. Até que um dia descobri que alguém tão completo como Winston Churchill
nascera prematuro - o mesmo tendo acontecido a sir Isaac Newton! Excusez du
peu... Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto.
Pelo contrário, sou tão orgulhoso que acho que nunca escrevi algo à minha altura.
Porque poesia é insatisfação, um anseio de auto-superação. Um poeta satisfeito
não satisfaz. Dizem que sou tímido. Nada disso! sou é caladão, introspectivo.
Não sei porque sujeitam os introvertidos a tratamentos. Só por não poderem ser
chatos como os outros?
Exatamente por execrar a chatice, a longuidão, é que eu adoro a síntese. Outro
elemento da poesia é a busca da forma (não da fôrma), a dosagem das palavras.
Talvez concorra para esse meu cuidado o fato de ter sido prático de farmácia
durante cinco anos. Note-se que é o mesmo caso de Carlos Drummond de Andrade,
de Alberto de Oliveira, de Érico Veríssimo - que bem sabem (ou souberam) o que
é a luta amorosa com as palavras.
Mario Quintana
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Por Adele
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