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Novamente a doce poesia de Mário Quintana

Neste domingo de céu azul, ensolarado , como é doce ler poemas de Mário Quintana !





O vento

Mário Quintana

Havia uma escada que parava de repente no ar
Havia uma porta que dava para não se sabia o quê
Havia um relógio onde a morte tricotava o tempo

Mas havia um arroio correndo entre os dedos buliçosos dos pés
E pássaros pousados na pauta dos fios do telégrafo

E o vento!
O vento que vinha desde o princípio do mundo
estava brincando com teus cabelos...








Doçura e nostalgia, ao recordar-se da cidade pequena da infância que, para ele, seria um pequeno pedaço do céu...






Era um lugar

Mário Quintana

Era um lugar em que Deus ainda acreditava na gente...
Verdade
que se ia à missa quase só para namorar
mas tão inocentemente
que não passava de um jeito, um tanto diferente,
de rezar
enquanto, do púlpito, o padre clamava possesso
contra pecados enormes.
Meu Deus, até o diabo envergonhava-se.
Afinal de contas, não se estava em nenhuma Babilônia...
Era, tão só, uma cidade pequena,
com seus pequenos vícios
e suas pequenas virtudes:
um verdadeiro descanso para a milícia dos Anjos
com suas espadas de fogo.
_um amor!
Agora, aquela antiga cidadezinha está dormindo
para sempre em sua redoma azul, em um dos museus do Céu.


Como Quintana via os seus próprios poemas:




Os poemas
Mário Quintana

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde
e pousam
no livro que lês.

Quando fechas o livro,
eles alçam voo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso, 
nem porto.
Alimentam-se em um instante 
em cada par de mãos
e partem.

E olhas, então, 
essas tuas mãos vazias,
no maravilhoso espanto de saberes
que o alimento deles
já estava em ti...



Postado por Amora.doce
em 07/09/2014

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