O poeta Castro Alves, com apenas 22 anos de idade, teve lucidez suficiente para compreender o terror da escravidão humana e coragem para denunciar o que se passava nos navios negreiros que transportavam escravos. Sua obra "O navio Negreiro" é um clássico da literatura brasileira, no estilo romântico do final do século XIX, mas até hoje é lida, apreciada e fala à alma dos brasileiros que não concordam com a exploração do homem pelo homem. Compõe-se de seis partes e se inicia com um simples verso
"Stamos em pleno mar..."
O cenário é descrito em detalhes, como se fazia na era romântica. Mas, aos poucos, o poeta leva-nos ao interior do navio, despertando nossa imaginação para o que ali ocorria:
Era um sonho dantesco...o tombadilho
que das luzernas avermelha o brilho
em sangue a se banhar.
Tinir de ferros...estalar de açoites...
Legiões de homens,
negros como a noite,
horrendos a dançar.
Um dos pontos altos do poema, que atinge realmente o emocional do leitor,é a invocação a Deus, incluída por Castro Alves na quinta parte do poema:
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura, se é verdade
tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
co'a esponja de tuas vagas
de teu manto este borrão?
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares tufão!
O clímax da indignação do poeta aparece quando questiona a presença da Bandeira Brasileira no navio negreiro:
Existe um povo que a bandeira empresta
Pra cobrir tanta infâmia e covardia!…
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!…
Meu Deus meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?!…
Silêncio!… Musa! Chora, chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto…
Pra cobrir tanta infâmia e covardia!…
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!…
Meu Deus meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?!…
Silêncio!… Musa! Chora, chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto…
Auriverde pendão da minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança
Estandarte que a luz do sol encerra,
E as promessas divinas da esperança…
Tu, que da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança,
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!…
Que a brisa do Brasil beija e balança
Estandarte que a luz do sol encerra,
E as promessas divinas da esperança…
Tu, que da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança,
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!…
Mas é infâmia demais! Da etérea plaga
levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca este pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!
Se você,leitor, considerar que o tom é trágico demais, pense um minuto apenas que Castro Alves denuncia, em seus versos, o absurdo do transporte de homens, que eram livres na África, para outros países nos quais viveriam como escravos; arrancados de sua terra, de suas casas e de suas famílias, transportados em condições miseráveis, tanto é verdade, que muitos deles morriam no mar, em plena viagem... ou então passavam a viver como mortos-vivos em miserável escravidão.Estes fatos justificam todas as palavras, todas as lamentações e acusações do poema "Navio Negreiro"...
Postado por Amora.doce
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