Quem cantaria o amor com palavras tão doces que se tornariam embalo para a alma de tantas gerações? Só posso estar falando de Vinícius de Moraes...
Soneto de fidelidade
De tudo ao meu amor serei atento
antes e com tal zelo, e sempre, e tanto
que mesmo em face do maior encanto
dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
e em seu louvor hei de espalhar meu canto
e rir meu riso e derramar meu pranto
ao seu pesar ou seu contentamento.
E, assim quando mais tarde me procure
quem sabe a morte, angústia de quem vive
quem sabe a solidão, fim de quem ama
eu possa me dizer do amor( que tive)
que não seja imortal, posto que é chama
mas que seja infinito enquanto dure.
E como descrever um doce momento a dois, de poesia e amor, no dia-a-dia, apenas um instante de encontro, que vale por toda uma vida? Emoção de Adélia Prado no poema:
Casamento
Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. Há qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como "este foi difícil"
"prateou no ar dando rabanadas"
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam: somos noivo e noiva.
Mas o medo dos apaixonados é a despedida, o afastamento, a solidão, como um dia João Guimarães Rosa expressou no poema:
Quando me disseste
que não mais me amavas
e que ias partir,
dura, precisa, bela e inabalável,
com a impassibilidade de um executor,
dilatou-se em mim o pavor das cavernas vazias...
Mas olhei-te bem nos olhos,
belos como o veludo das lagartas verdes,
e porque já houvesse
lágrimas nos meus olhos,
tive pena de ti, de mim, de todos,
e me ri da inutilidade
das torturas predestinadas,
guardadas para nós,
desde a treva das épocas
quando a inexperiência dos Deuses
ainda não criara o mundo...
Você, prezado leitor, conhece algum poema de amor que o emocionou ? Ou você mesmo já criou um lindo poema de amor? Gostaríamos que compartilhasse conosco...utilize o espaço dos comentários, para enviar-nos a sua emoção...
Postado por Amora.doce
Não conhecia esse de João Guimarães Rosa e gostei muito. Compartilho com vocês dois poemas que escrevi. Neste comentário deixo o escrito que chamei Sobre o Meu Amor e outro no próximo:
ResponderExcluirO meu amor não tem tamanho
Não tem destino, é sem direção
Meu amor não tem parada
O meu amor não é apenas estação
O meu amor está tão perto
E tão longe do meu sentimento
Meu amor é tão difícil
Tão discreto e sensível
O meu amor está tão longe
Mas está bem ao meu lado
O meu amor é tão sereno
É imensidão de um dia claro
O meu amor é tão bonito
É insensato, é raro, é vivo
O meu amor não tem tamanho
O meu amor sou eu que sinto
Lindo poema, Lucas! Gostei muito. Lembrei-me do poema de Camões, em que ele demonstra como o amor é paradoxal e cheio dos contrários...como você também afirmou. Recordo a estrofe inicial : " Amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente; é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer..." Você está em ótima companhia, Lucas,rsrsrs
ExcluirE a este eu nomeei Amar é Doação:
ResponderExcluirCerta feita disse o sábio
Que o amor não era fácil
E fácil mesmo não é
Este sentimento
Que se sente mais do que se quer
Certa feita disse o tolo
Que amava feito um bobo
Se entregava em palavras
Em olhares, em gestos
Em rimas e similares
E o sábio e o tolo sabiam
Que amar fácil não seria
Que amar seria dar-se
E nada em troca ter
Mas quem ama nada pede
O sábio e o tolo sentiam
Que o amor é mais doação
E cobrança não tinha sentido
Amar é doação sem fim
O sábio e o tolo o sabem bem
O sábio e o tolo são um
E amam sem nada pedir
Muito bom, este poema também, que define o que é o amor- doação sempre, seja o amor romântico, o filial, o materno, o amor pela Humanidade...o amor é o sentimento mais generoso e gostei que o sábio e o tolo têm a mesma visão...e não poderia ser diferente: o sábio e o tolo pois eles "são um", não é verdade? Obrigada pela participação, Lucas!
ExcluirAmora, minha contribuição: um poema de amor de Pablo Neruda:
ResponderExcluirTu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo.
Lindo, Adele, Pablo Neruda fala de amor como ninguém...este poema vai direto para meu álbum. Obrigada.
ExcluirPara o cafofo romântico da doce Amora:
ResponderExcluirAh, o amor...
minha fonte, minha sede,
meu barco, minha rede.
Não acredito Pandorah! Vc. criou esse poeminha de amor? Quem diria!... Vá em frente que a poetisa está despertando em você!
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